Extraido do Blog do Silvino Santin
Caros internautas: Neste espaço hoje começaremos a conhecer um gigante da familia SANTIN, trata-se do professor SILVINO SANTIN, cujos textos ricos e maravilhosos, extraídos de seu blog do SILVINO SANTIN, de conhecimento geral na internet, passarei a reproduzir aqui pela grandeza de detalhes, expressão viva da vida de nossos antepassados com o olhar do mestre SILVINO SANTIN, um orgulho para todos nós.
Quero aqui deixar escrito da minha alegria de ter encontrado estes textos onde o autor coloca toda sua experiência vivida, pratica em que podemos ver todo o contexto da imigração, nosso grande orgulho de ser gringos, filhos de descendentes de Italianos, criados na Igreja, no trabalho e na fé, a raiz de nossos pais e avós.
Não quero me alongar, porque escrever não é o meu caminho, sou meio tosco para o ofício, mas como um Viajante fofoqueiro, procurei por décadas estes assuntos de família, par poder dividir com os leitores que gostam do mesmo assunto que eu, uma vez que perdi meu pai com apenas 17 anos e meu avó paterno com 19 anos e avo materno com apenas 11 anos, e estes assuntos de familia, são explicados por pais ou avós/avôs, enfim, eles mostram o caminho e nós o continuamos.
Espero que gostem como eu gosto deste assuntos, abaixo a história narrada pelo professor e escritor SILVINO SANTIN, obrigado querido amigo, parente e professor, por toda esta grandeza demonstrada nos textos, etrna gratidão nossa.
SILVINO SANTIN: um currículo não acadêmico
(publicado na revista Motrivivência Ano XXI – n. 32/33 – junho e dezembro/2009)
Nasci na meia-tarde do
dia 26 de setembro de 1937. Na casa paterna em plena área rural.
Geralmente, naquela época, costumava-se nascer à noite. Uma questão de
recato, acho. A parteira, prática em todos os sentidos, sabia que o
parto ia ser difícil. Recomendou evacuar a casa. Conseqüência pré-natal:
espantei todos meus irmãos mais velhos. Inteligente! Os mais novos não
tinham nascido. E lá se foram “brincar” na casa da vizinha. Os gemidos
da mãe para abrir o caminho ao nascituro cabeção, ou cabeçudo, podiam
assustar, traumatizar. Nenhum recurso de obstetrícia científica. Apenas
os olhares dos quadros de santos e o testemunho do colchão de palha
desfiada de milho.
Desde esse primeiro registro de vida até
chegar à escola, fui sobrevivendo mergulhado na vida pluridimensional.
Bastava viver. Reforço vindo de um estágio infantil na casa da nona
Rosa. Lá havia vida em toda parte. Tudo era vivo. Sentia-me o legítimo
matuto, filho do mato. Conclusão tirada das raras vezes que era levado
até a vila para a missa dominical. Entrava-se na primeira rua à direita.
O necessário para entrar na igreja. Muitas vezes tentei imaginar para
onde iria se continuasse em frente. Nenhuma conclusão. Tinha certeza que
estaria perdido. No mato, eu sabia, os caminhos que eu abria me
levariam aonde eu queria ir.
Aos sete anos me matricularam no Colégio
das freiras. Não sabia falar português. No primeiro mês recebi um prêmio
por ser bem comportado, silencioso e atento. Muito mais tarde, conclui
que o prêmio era injusto. O bom comportamento era devido ao fato de não
saber falar português.
Depois fui – me mandaram – estudar no
seminário. Meu Deus, quantas regras gramaticais! De línguas vivas e
mortas. Os tempos passaram. Deu no que deu. Larguei o arado. Olhei para
trás, sem dignidade, como rezam os evangelhos. Recuperei o mundo.
Sou licenciado em Filosofia, mais por oportunidade do que por convicção. O viver me mostrou que valeu a pena. Acertei, errando.
Atenção! As minhas descobertas são sempre muito tardias.
Em 1968 tentei um mestrado em cultura
brasileiro na Faculdade de Letras da UFRJ. Tema: Categorias existenciais
em Seara Vermelha de Jorge Amado e Vidas Secas de Gracilhano Ramos.
Orientador, Eduardo Portela. Participei da passeata dos 100 mil, muito
mais como colono do que como revolucionário. O AI 5 deletou tudo.
Emprestei a minha ex-dissertação a um professor de teoria da literatura.
E nunca mais.
Em 1970, cavei, por razões do destino,
uma bolsa do governo francês para mestrado e doutorado em filosofia da
linguagem nas obras de Heidegger (mestrado) e Maurice Merleau-Ponty
(doutorado). Orientador Emmanuel Levinas. Nas primeiras férias trabalhei
de motorista da empresa AVIS. Ganhei dinheiro. Comprei carro e barraca.
Acampei por 17 países. Em final de 1974 voltei com os dois canudos. Fui
estreá-los na Unijui. Aconteceu algum ruído. Já em 1975, comecei como
professor convidado, depois, como professor visitante me transferi para
lecionar no recém credenciado curso de mestrado em Filosofia da
Universidade Federal de Santa Maria. A esposa me acompanhou. Onde nasceu
o nosso casal de reposição.
Uma surpresa inesperada. Eu chegara para
filosofar, mas a tendência era ensinar filosofia. Criei a disciplina de
Filosofia da Linguagem. Perdi o mando. Um professor argentino a
transformou em lógica. O chefe de departamento, sabendo que eu não
enjeitava parada, toda vez que algum curso solicitava uma cadeira de
filosofia, lá ia eu filosofar. Assim, filosofei com os químicos no
mestrado de química, com os engenheiros num curso de patologia da
construção civil, com os mestrandos do curso de extensão rural, com os
calouros na medicina e do curso de letras. Por fim, recebi permissão
para filosofar na Educação Física. Eta, mundo novo! E criei raízes. No
princípio, quando a educação física precisava mostrar sua identidade, os
debates pedagógicos, sociológicos, psicológicos, filosóficos, políticos
eram acalorados. Carregado por esses ventos participei de inúmeros
eventos em quase todo o Brasil. Em 1992, recebi o honroso convite para
compor o corpo docente do mestrado da ESEF-UFRGS durante seis anos.
Lembro, também, os gratificantes e freqüentes convites para participar
de atividades acadêmicas da ESEF-UFSC.
Não tardou que as caravelas cabralinas
invadissem o território e o entulhassem com índices performativos
Não posso esquecer o imenso e carinhoso
espaço aberto para as minhas filosofadas pela enfermagem da UFSC, da
UFP, da UFRGS, da UFSM.
A educação física e a enfermagem me
mostraram duas faces do corpo. A face forte, saudável a ser vivida ou
explorada. E a face fragilizada, enferma, sofrida pedinte de cuidado e
carinho.
Publiquei uma dúzia de livros individuais, uma dezena em parceria e um bom número de artigos em revistas e jornais.
Depois desta virada tecnicista, já
aposentado, optei por escrever textos e enviar aos congressos,
seminários sem me preocupar se seriam aprovados. Continuo com a minha
determinação, eu quero filosofar, não preencher número de páginas.
Descobri, agora, que o princípio da reversibilidade de Merleau-Ponty se aplica para o meu currículo e a minha biografia.
S. Santin
Santa Maria, 26.08.2010.
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