segunda-feira, 1 de julho de 2013

De Gaurama a Guarapuava - 1934 - Brunilda Santin Zanette e Anildo Zanette - História da familia.

Por Eloise Zannette
     O ano é 1934. Getúlio Vargas é eleito presidente do Brasil por mais quatro anos; a Itália de Mussolini é campeã da Copa do Mundo; Carlos Drummond de Andrade escreve o “Brejo das Almas”, e, no dia 15 de novembro, nascia mais uma filha de seu João Santin e Dona Adele: Brunilda Santin.
A cidade é Gaurama, no interior do Rio Grande do sul. Gaurama não acompanhava a evolução das artes plásticas, o movimento modernista e não era afetada pela constituição de Vargas. Em 1934 quase tudo que se aprendia e ensinava não estava nos livros, não se ouvia na rádio, na televisão e muito menos na internet.
Ainda mais em Gaurama, que na época nem Gaurama era, que na verdade nem era cidade... Era um distrito de Erechim, chamado Barro (ouvi dizer o nome era por causa de um banhado que havia na região).
Brunilda nasceu e cresceu em uma colônia no interior do povoado de Barro.
Com esforço frequentou a escola que ficava a mais ou menos cinco quilômetros de sua casa. E é claro que não tinha ônibus ou metrô... Era na raça mesmo, a pé.
Segundo Glória, irmã e grande companheira de Dona Bruna (e que por sinal fala igualzinho a Nona Bruna!), o mais terrível era o frio. Glória conta que elas acordavam bem cedo para ir à escola e que em certo ponto do caminho elas paravam e faziam um “foguinho” para esquentar os pés. Quando finalmente chegavam elas tinham ainda que dar satisfação ao professor Quirino, que não gostava nem um pouco de vê-las atrasadas.
Logo que cresceram tiveram que ir trabalhar na roça, pegar no arado, no pesado mesmo.  Dona Glória conta rindo que uma vez ela e a irmã pegaram os bois para buscar uma carroçada de abóboras. Quando elas estavam voltando, a roda da carroça passou em cima de uma pedra e derrubou a carroça. As abóboras rolaram todas morro abaixo...Algumas até para dentro do rio. Quando Glória viu o que tinha acontecido, sentou em uma pedra e começou a rir. Olhou para o lado e viu Bruna chorando, desesperada. “Mas Bruna, por que tu ta chorando?”
E ela blasfemava... “Porco Dio, tu não ta vendo as abóboras tudo no chon?”
“Mas enton a gente desce e pega as abóboras de novo, porca mandona!”
                        Dos bailes de moça ao baile de casamento
Dona Bruna nunca fez o tipo santinha. Era boa moça, mas não era boba. Gostava mesmo era de um bom baile e de namorar bastante. Nos bailes da Linha Sete e no Leão da Serra, em Gaurama, ela e Glória dançavam até cansar... Cada uma com seu paquerinha do momento. Glória conta que era lindo de se ver os casais todos arrumados, as meninas em suas saias godês, com buclês nos cabelos, tudo como mandava o figurino dos anos 50. Quando o baile acabava, elas pegavam carona com o Anildo, que tinha um caminhão pau-de-arara, e eles iam todos em baixo da lona, todos os casais, namorando no escurinho do caminhão... E como devia chacoalhar aquele caminhão, ein?!
Bruna conheceu o seu Anildo Zanette ainda menina. Ele morava apenas a “uma estação de trem” da casa delas. Mas eles só começaram o namorico na época dos bailes. E os dois dançavam juntos até onde as pernas aguentavam!
Quando a Bruna já tinha uns 16, 17 anos, ela e a Glória, que é um pouco mais nova, foram trabalhar no hospital da cidade, o Hospital Santa Isabel, que era, e é até hoje, comandado por freiras. Bruna trabalhava na farmácia do hospital e a Glória na copa, cuidando da comida dos doentes. “A Bruna tava sempre no avental branco dela e era a respeitada Dona Bruna e eu ficava separando comida de doente! O pior é que de noite ela ainda ganhava chocolate da Madre!”, conta aos risos, mas ainda meio indignada, Dona Glória.
Quando a madre superiora faleceu, as outras freiras deram uma grande missão às duas irmãs. Elas seriam os anjos da madre. Anjos mesmo, mas não no sentido figurado... Elas tiveram que vestir roupas de anjo e ficar plantadas ao lado caixão, velando a madre a noite inteira! “Bruna... o sono tá pegando... nós vamos fazer o que aqui do lado dessa morta?
Brunilda trabalhou no hospital até se casar com seu Anildo, que por sinal era um dos rapazes mais bonitos de um dos melhores partidos das redondezas (mas também, vamos combinar, o cara tinha um caminhão e era charmosão! De boba, Bruna não tinha nada...)
O mais novo casal de Gaurama foi morar em uma casa muito bonitinha na cidade e foi nela que nasceram o Vitor e o Eduardo. Depois eles mudaram para uma outra casa onde os outros 4 filhos nasceram: o João, o Carlos, a Sandra e a Sílvia.
“Me leve ao paraíso ou me deixe no Paraná...”
E aí o sossego acabou! Cuidar de seis filhos devia ser bem mais difícil que o trabalho na farmácia do hospital!
E já não bastasse o trabalho, o Nilo (como era chamado seu Anildo), teve uns problemas na prefeitura de Gaurama, onde ele trabalhava. Esse parece ter sido o principal motivo para que a família aceitasse o desafio de mudar para Pato Branco, no Paraná, para tentar uma vida nova, tocando um restaurante. (Na verdade, eu sempre quis acreditar que eles saíram do Rio Grande porque o Nilo tinha problemas com a ditadura... Que era um famoso perseguido político ou algo do gênero. Mas cada um acredita na versão que quiser, né?!)
Em Pato Branco as coisas não foram muito bem e logo surgiu a oportunidade para cuidar de um restaurante em Guarapuava. E aí não precisa falar mais nada, né?! Hoje Guarapuava conhece Dona Bruna e a respeita porque conhece seu trabalho. E quem não conhece, pelo menos sabe que a comida é uma delícia e isso já é um bom motivo para se respeitar uma italianona como ela!

O sotaque italiano forte, o sorriso gostoso e a simpatia fizeram com que as pessoas se sentissem em casa no restaurante Zanette e fez com que Dona Bruna fizesse muitos bons amigos. Hoje, Dona Bruna, seus filhos e netos são “filhos” de Guarapuava, mas sem nunca esquecer da terra linda de Gaurama e com muito orgulho de ter os pés no Rio Grande do Sul. 

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